quinta-feira, 28 de maio de 2009

Esperando

Fiquei esperando um tempo.
Meus braços se abriam contra o vento.
Meus cabelos dançavam.


Esperava uma primavera.
Você com um vestido colorido.
Um girassol.


Construí um jardim.
Para as borboletas.
Para as abelhas.


Só para você eu construí um templo.
Houve um reinado absoluto.
Rainha muito sábia você foi.


De pétalas te cobri.
Cama, incensos, velas
E corpo vestido com sedas.


Beijos em seus lábios escarlates.
Beijos em seus olhos de diamante...
E o sol se fez em seu sorriso.

Mendigo Sábio

Fiquei preso em uma oração quando conheci você.
Porque de tão linda, tão linda, que eu não conseguia
Olhar para você.

E quando a olhava disfarçadamente, me sentia arrebatado
Por seu sorriso, pelos seus gestos e respirava fundo para
Sentir o seu cheiro.

Eu não tinha universo, nem casa, nem chave, mas só um olhar
Me deu tudo que eu queria. Você me deu seu lábios e nunca
Mais tive sede.

E em seu corpo fiz morada e nunca mais senti frio.
Não preciso mais das lágrimas. Mesmo que caiam,
Terei o seu abraço.

Quando ando pela cidade, as árvores existem e desejo
Bom dia ao mendigo e divido meu pão com ele.
Ele me disse: - só se é mendigo quando as

Moléculas do seu corpo, quando as suas sinapses,
Os seus hormônios e os batimentos estão normalizados.
O amor é a própria desestrutura, meu filho.

Mendigo sábio.
Não houve mais lembrança.
E a solidão foi o alvo.
A noite foi tudo o que restou.
E o sol era pesado.

O calor o incomodava.
O sorriso, os beijos, o afago.
Apenas uma mecânica.
Tudo ficou falso.

Ficou tão raso,
Tão profundo,
Tão superior,
Tão filosófico.
O amor que sente agora
Chama-se quietude.
O tempo de agora é leve e
Forma suaves marcas.

O desejo foi transformado
Em mansidão.
Os olhos quando se fecham,
É apenas para contemplar.

Para sentir o cheiro mais
Intensamente. Para guardar
Os instantes serenos e ouvir
O próprio coração.


Daniel de Castro

Lágrimas com arroz.

Enquanto ficava preocupada com a vida, chorava.
E o cheiro do alho tomava conta da casa.
A água secava e as lágrimas brotavam.

A torneira do banheiro ficou ligada enquanto ela se olhava.
Enquanto ela tentava se encontrar naquele espelho que nunca
Fora tão distante.

A água. O barulho, o silêncio dela era terapêutico.
Mas o sal do arroz foi demais.
O alho queimou.

O banheiro foi seu único refúgio.
Foi o amparo para sua ânsia, para seu medo.
O medo do desamparo.

O amor acabou.
A vida acabou.
E o arroz queimou.


Daniel de Castro